quinta-feira, 19 de maio de 2011

POESIA COQUEIROS

COQUEIROS

Poema escrito por Mozart Tanajura

Contam os primeiros
Que ali não havia coqueiros.
Antes eram só pastos
E chão dos Castros.
A vida era calma, sem confusão,
Plantava-se cana, arroz, algodão;
Fabricava-se açúcar e pão-de-milho,
E, sobretudo, se fazia filhos.
Havia água em abundância:
“Rego do Major”, “Rego da Boa Esperança”,
“Rego do Engenho”, “Rego do Sobrado”.
Todos nascendo do Rio Brumado.
Água para mover o engelho real
- econômico, primitivo, tradicional.
Água para girar depressa a mó,
Nos “Coqueiros” de Miguel Alves, do Cafundó.
Água para destilar a fumarenta cana,
Água para se tomar banho na bicana.
A cachoeira de “Vila Velha” cobriu a pedra.
Haverá com fartura água na terra!
“Coqueiros”dos tempos idos de então:
Negras e sinhás fazendo rendas no estradão;
Camas largas de moças casadouras,
Gemendo nas solidões aterradouras.
Quem virá desposar, um dia,
Cândida, Francisca ou Maria?
“Coqueiros” dos tempos sem igual:
Missas celebradas ali pelo Natal;
Mesas cheias e compridas, de jacarandá;
Fartura igual nunca haverá:
Terrinas de Macau, travessas e travessões;
Leitoas nas ceias, perus, galinhas e leitões.
Doces, geléias, compotas e vatapá.
Quem disso não gostará?
Mas, contam os primeiros
Que ali não havia coqueiros.
Um dia, naquele Engenho, chegou um Doutor,
Para curar uma dor,
Que na garganta se induz
De dona Francisca de Jesus.
E, desta cura no bendito afã,
Nasceu um amor, origem do famoso ela.
- Queres casar comigo, disse a Sinhazinha
(os dois a sós na camarinha),
Com voz rouca tristura
Ao médico José de Aquino Tanajura.
E este lhe disse que queria,
Que a vida toda um ao outro se amaria.
O velho Alves Coelho sabedor,
Naquele mesmo instante aprovou.
E, no dia do casamento,
Como naquele tempo saía,
(plantar sempre uma árvore nas grandes ocasiões),
Mandou buscar em Salvador
Mudas de côco da Bahia
E naquelas terras as plantou,
E desde então “Coqueiros” se chamou.

Poesia escrita por José Mozart Tanajura, filho de Domingos de Espírito Santo Tanajura e Dolores Tanajura, contando como ocorreu o casamento dos seus bisavôs, Dr. José de Aquino Tanajura e Antônia Francisca de Jesus. Miguel Alves Coelho era natural do lugar Cafundó, na região de Rio de Contas, e casou-se com Manoela Sofia, filha do Tenente-coronel Joaquim Pereira de Castro, um dos pioneiros na povoação da atual cidade de Livramento. O velho Alves Coelho era proprietário de um engenho de açúcar nos arredores da cidade. O Dr. Tanajura residia na cidade de Rio de Contas, e foi chamado para medicar a filha do velho Alves Coelho, Antônia Francisca de Jesus. O engenho passou a se chamar “Coqueiros”. O lugar ainda possui a casa grande da propriedade, mas encontra-se desapropriado pelo projeto de irrigação do vale do Rio Brumado.

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